26.5.05

Rede de confiança

Sempre que falamos sobre a influência dos blogs alguém questiona a confiabilidade das informações por eles divulgadas. De fato, é muito mais fácil escrever uma mentira em um blog do que em um jornal - entre outros motivos, porque seu emprego não está diretamente em jogo. Mas os escândalos do NY Times mostraram que até no ex-jornal mais respeitado do mundo é possível mentir. A diferença é que muita gente que acredita em tudo o que lê nos jornais não é tão crédula em relação à internet, embora já exista também uma grande parcela da população que confie mais em seus pares (cuja forma de expressão pode ser um blog) do que na imprensa, como vimos no estudo Trust MEdia, da Edelman.

Em uma edição recente do For Immediate Release, Hobson e Holtz (nunca lembro quem falou o quê) discutiram a aplicação do fenômeno The Long Tail aos blogs e concluiram que um blog não precisa ter milhares de leitores para ser influentes. Bastariam uns dez internautas capazes de replicar aquela informação - seja em outros blogs, seja no "mundo real" - para ela começar a se alastrar. Isso vale também para a confiança: eu não preciso que a internet como um todo acredite no que eu escrevo, mas se uma ou outra pessoa que confia em mim comentar o que eu escrevi em seu blog, quem confia nela passará a acreditar na notícia também, e assim sucessivamente - esta não é uma das características das redes sociais?

Vale às avessas também: se você chegou aqui agora e não tem a menor idéia de quem eu sou, mas viu o link para o estudo da Edelman ali em cima e sabe que eles são referência na área da comunicação online, blogs, PR etc, acaba transferindo parte dessa reputação para mim. Não que qualquer um não pudesse citar uma fonte respeitável, mas o fato de a internet permitir que cliquemos nos links para verificar a veracidade da informação original certamente ajuda. E olhe que ainda nem citamos os sistemas automatizados de reputação, como o que move o Slashdot ou o que deveria existir em qualquer site de avaliações de produtos e serviços - assunto para um outro post.

Por fim, fugindo um pouco do assunto, lembro uma prática muito comum nas escolas americanas - pelo menos na região onde minha tia mora, no estado de Nova Iorque: no início do ano os pais montam uma rede de comunicação em estilo "pirâmide", usada para difundir informações para a escola toda rapidamente - em caso de suspensão das aulas por causa de uma nevasca, por exemplo. A escola avisa o pai do topo da pirâmide, que fica responsável por avisar outros dois, que entram em contato com mais quatro e assim por diante. Assim, cada pai só tem que dar dois telefonemas e logo a escola toda está avisada. A confiança nos blogs funciona mais ou menos assim: ninguém precisa confiar em toda a blogosfera, mas existe uma rede implícita que valida (ou não) as informações à medida em que se disseminam.

1 Comments:

Blogger Suzana Gutierrez said...

A diferença é o formato rede ao invés do formato hierarquico de uma pirâmide, embora existam os chamados A-list que seriam os topos de pirâmides. Infelizmente a estrutura da blogosfera não é livre completamente das estruturas hierarquicas e meritocráticas de nossa sociedade. Mas, de vez em quando, um pêlo da 'long tail' se levanta :)

11:21 AM  

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